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A POPULAÇÃO E A GRAMA

Kianne Gomes

As entrevistas realizadas com moradores e frequentadores do entorno das áreas gramadas, da Avenida Antônio Carlos, mostrou que grande parte dessas pessoas se sentem inseguras nessas áreas. O relato de uma moradora da região demonstra que essa sensação se tornou presente após as obras de duplicação da Avenida. Segundo ela, após as obras, muitos moradores de ruas e usuários de drogas se instalaram nos gramados resquiciosos da Avenida, trazendo sensação de insegurança. Ainda segundo ela, essa situação não seria mudada se houvessem equipamentos que permitissem o uso dos gramados como área de lazer, pois não afastariam esses usuários. Ela acredita que a única forma de mudar essa situação e fazer com que os moradores se disponham a usar os gramados, seria com uma vigilância presencial constante.

Quando perguntados a respeito do tipo de imagem a grama teria para eles, a maior parte dos moradores se referiu a espaços de lazer, arborizados, com equipamentos urbanos de uso público. A sensação que tive é que essas pessoas imaginam esses espaços como algo muito distante da realidade em que estão inseridas. Uma das moradoras disse não considerar as áreas de talude como gramado. Isso se deve, ao meu ver, pelo fato de não remeterem em nada às suas referências de espaços gramados.

A região gramada próxima ao Anel Rodoviária, segundo moradores, é utilizada nos fins de semana principalmente, para fins de recreação. Isso se deve segundo eles pela falta de áreas abertas nas comunidades vizinhas. Segundo um morador, eles aproveitam essa área para jogar futebol, estender rede, sentar nas poucas sombras disponíveis e passar o tempo livre. A falta de infraestrutura não os inibe, já que esse é o único local que possuem como área livre. Diferentemente das outras regiões, não se nota a presença de moradores de rua e usuários de droga nesse local. O que pode contribuir para maior utilização do local por parte dos moradores. A área é limpa pela Prefeitura uma vez ao mês aproximadamente, segunda uma moradora. Ela diz ainda que, quando a população quer usar a área, eles mesmos a limpam, caso esteja sujo.

A reagião gramada próxima a Avenida Manuel Gomes, fica ao lado de uma antiga praça da região, que já era utilizada anteriomente às obras pela população. A presença da antiga praça e de bares no entorno do gramado pode ter facilidato a utilização, que segundo uma moradora, ocorre principalmente aos fins de semana para fins recreativos, principalmente. Contudo a população não se envolve em mutirões de limpeza na região, o que pode demonstrar que não há um laço afetivo dos moradores com relação ao local.

 

Próximo dessa área, na margem oposta do Anel Rodoviário conversei com um morador que criou voluntariamente um jardim na região para valorizar a área, que antes era utilizada como bota fora. Há aproximadamente três anos, seu João começou a cuidar desse jardim, que fica em frente a casa dele. O jardim do Seu João fica ao lado dos gramados da Avenida Antônio Carlos, que por sua vez não possuem tratamento urbanistico, o que provoca um constrante muito forte entre as duas realidades. Segundo Seu João, os gramados da Avenida são mais frequentados por moradores de rua, enquanto seu jardim custuma receber visita de curiosos e pessoas que pedendem mudas de plantas. O jardim, contudo, não é utilizado como área de lazer pela população. Sua visibilidade é mais prejudicada por estar em um local com menor número de habitações e grandes galpões no entorno.

A área em frente à Paróquia Imaculado Coração de Maria, chama atenção por ser um local relativamente plano e como muito protencial de utilização. Rodeado de casas, comércio e próxima a uma escola municipal, a área poderia facilmente ser utilizada como praça. Contudo, segundo um morador, não é o que ocorre. A única utilização identificada por ele foi uma missa realizada ao ar livre, além de algumas crianças, que soltam pipa na regiao, com pouca frequência. A população costuma, no entanto, utilizar outras praças do bairro. Segundo um funcionário da Igreja, a área já foi utilizada para realização de celebrações, mas não mais. Ele afirma que existe um projeto de implantação de uma praça previsto para a área, mas sem estimativa de realização pela Prefeitura. Ele diz ainda que atualmente existe um projeto de zumba, que utiliza a área no período da noite. 

Percebe-se que as áreas utilizadas pela população são aquelas próximas a Vilas, onde geralmente não há espaços livres disponíveis. A população então se apropria desses gramados como forma de criar possibilidades de lazer urbano. Porém, o pouco cuidado com essas regiões demonstra que nem sempre há sentimento de pertencimento em relação a esses locais.

Muitos moradores se demonstraram alheios a esses espaços durante as entrevistas, como se não interferissem muito em seu quotidiano. Apesar do grande impacto visual e das grandes distâncias a serem vencidas, impostas pelas grandes áreas gramadas, que se caracterizam como grandes barreiras de acesso à região. Acredito que essa certa indiferença se deva ao fato de que os gramados na verdade funcionam como delimitadores do espaço. Antes da duplicação da Avenida Antônio Carlos, o espaço era um todo homogêneo, agora a Avenida se apresenta como uma ruptura a essa continuidade. Dessa forma, os moradores tendem a se voltar para o interior dos bairros, visto que na Avenida não há nenhum atrativo. O único atrativo possível, nesse caso, seriam os próprios gramados, contudo estes se apresentam como barreira e provocam insegurança, inibindo o uso.

Outro fato que chama bastante atenção durante as visitas, é a escala desproporcional e antagônica do conjunto. Enquanto os bairros são constituíos de unidade unifamiliares e multifamiliares de pequeno e médio porte e comércio local, a Avenida e seu conjunto de gramado se apresentam com uma escala monumental totalmente desvinculada da realidade desse lugares. Salvo alguma exceções de equipamentos de grande porte, presentes na Avenida, a escala adotada em nada conversa com as preexistências, o que reforça a ideia de barreira imposta pela Avenida e seus gramados. Ao contrário do que foi dito durante as obras de duplicação da Avenida, os espaços remanescentes não constituem áreas verdes de uso público, e nem poderiam, visto que não há nenhum tipo de suporte no local que permita sua apropriação. Os espaços gramados são na verdade vazios urbanos que distanciam a possibilidade de uso.

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